Num recanto na Califórnia (EUA), um filhote de urso-negro brinca e dorme tranquilo, sem saber que seus cuidadores são humanos vestidos como ursos
Luiza Lopes Publicado em 07/06/2025, às 09h00
Num canto silencioso do Centro de Vida Selvagem de Ramona, na Califórnia (EUA), um filhote de urso-negro de 5,4 kg brinca com flores silvestres, cava a terra atrás de insetos e cochila agarrado a um enorme urso de pelúcia. O que ele não sabe, e nem deve saber, é que quem cuida dele não é um urso, mas sim humanos disfarçados.
Desde que foi encontrado sozinho e desnutrido na Floresta Nacional de Los Padres, em abril de 2025, esse filhote vem sendo criado pela equipe da San Diego Humane Society (Sociedade Protetora dos Animais de San Diego). Com cerca de dois meses na época do resgate, ele é o urso mais jovem que a organização já recebeu — e sua sobrevivência, desde o início, foi incerta.
“Ele chegou extremamente debilitado. Depois de ar vários dias sem nutrição, a situação era crítica no início”, relatou Autumn Welch, gerente de operações de vida selvagem do centro, em comunicado.
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Para evitar que o animal se apegue a humanos, algo que comprometeria qualquer tentativa futura de reintrodução à natureza, os cuidadores usam trajes que imitam ursos. São casacos de pele doados, luvas grossas, máscaras detalhadas e até feno com cheiro de urso para impregnar os trajes.
Um urso de pelúcia de tamanho real ocupa um canto do recinto, simulando a figura materna — é para ele que o filhote corre quando se assusta ou quer dormir. “Ele provavelmente sente muita falta da mãe verdadeira”, contou Welch à CNN. “Esse ursão deu conforto a ele. Quando não estávamos por perto, ele se encostava e dormia todo aconchegado.”
Além do afeto simulado, o filhote também está aprendendo com os “falsos ursos” como agir como um animal selvagem: escalar árvores, cavar em busca de comida e construir ninhos.
Recentemente, atingiu um marco importante ao capturar e comer seu primeiro inseto. Em outra ocasião, um cuidador entrou no recinto sem a fantasia, e o filhote imediatamente fugiu para o alto de uma árvore. “É o tipo de progresso que nos mostra que ele poderá, sim, voltar à natureza”, destacou a cuidadora.
O uso de fantasias para cuidar de animais selvagens é relativamente recente, mas tem sido adotado com sucesso em outros casos, como filhotes de coiotes e raposas. A expectativa da equipe é manter o urso em reabilitação por cerca de um ano, até que aprenda a procurar alimento, encontrar abrigo e evitar contato com humanos.
Cuidar de um filhote tão jovem demanda tempo, paciência e dinheiro — cerca de 72 mil dólares (cerca de R$ 390 mil) ao longo de um ano, de acordo com estimativas da organização.
“Não é comum vermos filhotes de urso tão jovens sem a mãe. É uma honra cuidar dele, mas também uma responsabilidade significativa. Dependemos totalmente de doações para possibilitar esse tipo de cuidado especializado”, disse Welch. “É um trabalho feito com amor. Estamos felizes por ajudar esses animais e, um dia, vê-lo prosperando na natureza — vai ser a melhor coisa do mundo”.
