Estudo revela em tempo real como células formam o coração de um camundongo e abre caminho para avanços na medicina regenerativa
Gabriel Marin de Oliveira, sob supervisão de Fabio Previdelli Publicado em 15/05/2025, às 17h10
Pela primeira vez na história da ciência, pesquisadores conseguiram registrar em três dimensões o processo de formação de um coração em tempo real. Utilizando uma técnica inovadora de microscopia, a equipe liderada pelo Dr. Kenzo Ivanovitch, da University College London (UCL), filmou o desenvolvimento do coração de um embrião de camundongo ao longo de 40 horas.
As descobertas, publicadas na última segunda-feira, 13, no periódico The EMBO Journal, oferecem novas perspectivas sobre como os órgãos se formam, e podem transformar o entendimento e o tratamento de doenças cardíacas congênitas.
A filmagem mostra um momento crítico do desenvolvimento embrionário conhecido como gastrulação — fase em que células ainda indiferenciadas começam a se organizar e se especializar para formar os tecidos e órgãos do corpo.
Por meio de uma técnica chamada microscopia de lâmina de luz, os cientistas iluminaram os tecidos vivos com feixes de luz finíssimos e aplicaram marcadores fluorescentes para destacar as células cardíacas em formação.
Segundo a CNN, o resultado é um time-lapse celular inédito, com imagens registradas a cada dois minutos, revelando o surgimento das primeiras células específicas do coração.
Pesquisadores registraram pela primeira vez, em time-lapse, o momento exato em que um coração, um dos órgãos mais importantes, começa a se formar. O registro foi feito a partir de um embrião de camundongo vivo. pic.twitter.com/S2IIAEfAJh
— Portal Roma News (@RomaNewsOficial) May 14, 2025
"Essa é a primeira vez que conseguimos observar células cardíacas tão de perto, por tanto tempo, durante o desenvolvimento de mamíferos", afirmou Ivanovitch. "O que descobrimos foi totalmente inesperado: movimentos celulares que pareciam caóticos seguem, na verdade, padrões bem definidos que guiam a formação do coração".
A pesquisa representa um marco não apenas na biologia do desenvolvimento, mas também na medicina regenerativa. Ao entender com precisão como o coração se forma desde os primeiros estágios, os cientistas podem aprimorar métodos para cultivo de tecidos cardíacos em laboratório, com aplicações que vão desde o tratamento de malformações congênitas até a criação de biopeças para transplantes no futuro.
Os pesquisadores agora pretendem aplicar a mesma técnica ao estudo da formação de outros órgãos, como fígado e rins, para mapear seus padrões celulares iniciais. Segundo Ivanovitch, o objetivo final é construir um atlas tridimensional do desenvolvimento de órgãos em mamíferos, algo que pode redefinir o futuro da engenharia de tecidos e da medicina personalizada.
