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Com 103 anos, Walfrid de Moraes é testemunha viva do maior conflito armado da história: 'Aprendi a viver mais', diz sobre a aprendizagem que teve da 2ª Guerra
Publicado em 17/05/2025, às 12h00 - Atualizado em 22/05/2025, às 18h45
Durante a Segunda Guerra Mundial, a Força Expedicionária Brasileira (FEB) enviou mais de 25 mil combatentes à Europa em apoio às tropas Aliadas. Era julho de 1944, quando os primeiros pracinhas chegaram ao porto de Nápoles.
Memória viva do maior conflito armado da história, o agora 2º tenente do Exército Walfrid de Moraes, que completou 103 anos em 2024, foi um desses combatentes que defenderam o Exército brasileiro contra as forças nazistas.
"Eu só soube na hora que eu fui escolhido… Mas eu esperava pelo 'vai chegar o dia de me chamarem pra ir pra guerra'", conta o veterano em entrevista exclusiva à equipe do Aventuras na História.
Do Quartel General na Praça da República, Walfrid aponta que foi enviado para o 1º Batalhão de Caçadores de Petrópolis; onde foi escolhido para integrar a Força Expedicionária Brasileira.
Ele relembra que, na época, teve que ser submetido a um exame médico feito por um primeiro-tenente. "Ele era padioleiro aqui [no Brasil], eu fui cobaia dele aqui. Ele me deu umas injeções".
"Ai eu falei assim: 'Oh tenente, tu vai me livrar dessa?'. 'É o exame médico que vai dizer'. Ai ele fez o exame e disse assim: 'Você tá bom, então você vai'", recorda em tom sem bem-humorado.
Eu falei: 'tudo bem, eu tô ando uma vidinha aqui. Péssima, ruim. Sem emprego, sem nada. Eu vou'".
Integrante do Depósito de Pessoal da FEB, Walfrid de Moraes foi enviado para a Itália em novembro de 1944. "Quando foi de manhã cedinho, eu vi o navio balançando e fui perceber o Pão de Açúcar estava sumindo. Falei, 'bom, agora não tem mais jeito'".
De navio, o pracinha aponta que "foi embora pelo Atlântico todo" até chegar em Gibraltar, quando a embarcação entrou no Mar Mediterrâneo. Em alto-mar, Walfrid teve que enfrentar um problema de saúde. "Eu senti uma febre que eu tive aqui no Brasil. Eu tive lá também, ela voltou. Malária".
Eu fui pro hospital quando eu desembarquei lá. Chegando no hospital, o médico perguntou de onde eu tinha vindo: 'Eu tô chegando do Brasil agora'... 'Oh, rapaz, vê se aguenta por aqui, porque a cobra ta fumando. Você vai escutar uns tiros daí ou de canhão'. Eu falei: 'bom, tá certo, eu vou ficar aqui até quando Deus quiser'".
O veterano conta que teve que ficar 12 dias internado em um hospital em Nápoles e foi liberado pelo tenente que istrava o local. "O tenente falou pra mim: 'você tá curado. Você quer ir pra onde estão seus colegas?'. Falei: 'quero, quero sim'. Aí me botaram em cima de um carro de quatro rodas. ei em Roma, Livorno, Pisa. Cheguei em Pisa e gritaram: 'O Moraes tá chegando agora!'. E o João Batista gritou: 'É o Moraes! Vem cá, fica conosco aqui na barraca'".
Ai eu fique com eles lá. Fiquei até levantarem o acampamento e ir para Staffoli, que já tava perto da Ponte Cappiano", recorda
Durante a Segunda Guerra, as tropas brasileiras aram a reforçar o Vº Exército dos EUA — que estava desfalcado de unidades operacionais que haviam sido desviadas para a invasão do Sul da França. Os pracinhas também ocuparam e conquistaram locais ermos, como o Monte Nona (1.300m).
Já entre novembro/dezembro de 1944 e fevereiro de 1945, ocorreram as batalhas na região em torno do Monte Castello. "Eu ficava preocupado em enfrentar uma Guerra e minha família aqui. Preocupa a gente, né?! Mas, eu acho que eu tive a proteção divina e do meu sargento".
Walfrid recorda que, sempre que possível, ele era 'poupado' por seu superior. "Ao invés dele me chamar pra ir pro front, substituir os outros que estavam lá, eles chamavam outros e eu ficava lá na fila".
Durante a participação das tropas brasileiras na Segunda Guerra, a FEB perdeu mais de 1.500 combatentes no conflito — deles, por volta de 467 morreram em combate. Outros 2.700 foram feridos ou ficaram mutilados pelo resto de suas vidas.
O veterano recorda a ocasião em que perdeu um colega de batalhão. "Eu perdi um Segundo-Sargento de Petrópolis. Ele foi morto numa emboscada, durante uma patrulha. Quando ele foi entrar num prédio, explodiu tudo e ele morreu ali".
Foi um colega que eu treinei junto em Petrópolis. Ele dava ordens pra gente no 1º BC [1º Batalhão de Caçadores]", explica.
Mas Walfrid de Moraes também aponta que tem boas recordações do conflito, relembrando a felicidade que sentiu quando soube do fim da guerra. "A alegria da gente foi quando acabou a Guerra. Quando acabou a Guerra todo mundo ficou alegre. Todo mundo gritava, comemorava…".
"Eu não estava onde fica a tropa, eu estava dando um giro por lá. Eu estava no lugar que tinha um baile. E foi lá que eu soube a notícia. Quando eu estava lá, não só eu, mas os italianos todos começaram a gritar: 'acabou a guerra, acabou a guerra'", recorda.
No processo de volta ao Brasil, os pracinhas da FEB, antes, aram por Portugal, que vivia sob o regime Carmona-Salazar. "Desfilamos naquela avenida que vinha lá do lugarzinho mais alto e caia no porto. Desfilamos pela Avenida da Liberdade".
A gente fica alegre né. É um desfile de retorno para o Brasil", diz.
Quase um ano depois da campanha na Itália, os pracinhas foram recebidos com festa no Rio de Janeiro (que naquela época era capital federal do Brasil) e em outros estados do nosso país. No dia 18 de julho de 1945, os combatentes foram recebidos com o Desfile da Vitória.
"Foi muita alegria. Eu desfilei na Avenida Presidente Vargas. As meninas ficavam gritando e avançava em cima da gente. Eu sempre gostei de desfile. Eu gostava de desfilar".
Apesar de toda sua história e dos momentos difíceis que ou, Walfrid de Moraes diz que não se considera um herói. "Não, não sou herói. Todos nós temos um momento de agir… Eu fiquei tranquilo, eu não fiquei preocupado. A preocupação era a família só".
Os Expedicionários falam que heróis são aqueles que não voltaram. Esses que perderam a vida lá, no combate", consente.
Por fim, Walfrid de Moraes, que completará 104 anos em julho, diz que sente uma felicidade enorme por ser um representante vivo da história e conta qual foi o maior ensinamento que teve da guerra: "Eu aprendi mais a viver".
+ Confira a seguir a entrevista completa com Walfrid de Moraes, veterano da Força Expedicionária Brasileira, que participou da Segunda Guerra Mundial: