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Vítor Soares / Ditadura militar

Conheça a história dos militares que foram perseguidos pela ditadura

Durante os 'Anos de Chumbo', ao menos 6.591 militares foram cassados, presos, torturados ou mortos pelo regime; conheça algumas histórias!

Vítor Soares, professor de História Publicado em 25/02/2025, às 18h00 - Atualizado em 27/02/2025, às 18h29

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Militares durante os Anos de Chumbo - Arquivo Nacional
Militares durante os Anos de Chumbo - Arquivo Nacional

A ditadura militar brasileira (1964-1985) perseguiu não apenas civis, mas também milhares de membros das próprias Forças Armadas. Segundo a Comissão Nacional da Verdade (CNV), ao menos 6.591 militares foram cassados, presos, torturados e até mortos pelo regime.

Entre eles, estavam oficiais e praças que, por serem contra ao golpe ou discordarem dos rumos da repressão, foram tratados como rivais pelo próprio Estado que serviam. Saiba mais!

Rui Moreira Lima: De Herói de Guerra a Perseguido

O brigadeiro Rui Moreira Lima foi um dos militares que enfrentaram o nazismo durante a Segunda Guerra Mundial, participando de 94 missões de combate na Itália. No entanto, sua bravura nos céus europeus não o livrou da perseguição política após o golpe de 1964.

Como comandante da Base Aérea de Santa Cruz, no Rio de Janeiro, Moreira Lima foi cassado e aposentado compulsoriamente por se posicionar contra o regime. Sua família foi perseguida, e em 1970 ele e seu filho foram sequestrados por agentes do DOI-CODI.

Mantido em cárcere por três dias, sofreu privação de sono e humilhações constantes. Anos depois, ao prestar depoimento à CNV, denunciou as atrocidades do regime. Apesar disso, sua trajetória de resistência foi ignorada em homenagens póstumas feitas pela Força Aérea Brasileira.

Francisco Teixeira: Prisões, Torturas e Retaliações

Outro militar de alta patente perseguido foi o brigadeiro Francisco Teixeira, que participou da defesa do litoral brasileiro contra submarinos nazistas e italianos na Segunda Guerra.

Líder da ala nacionalista na Aeronáutica, Teixeira foi preso logo após o golpe, permanecendo incomunicável por 50 dias. Teve sua cidadania cassada e foi oficialmente declarado morto pelo regime, levando sua esposa a receber pensão como viúva.

Além da cassação, sofreu ataques diretos, incluindo o incêndio criminoso de sua casa em 1969. Seus filhos também foram perseguidos: seu filho Aloísio foi preso e torturado na Ilha das Flores, e sua filha, Maria Lúcia, também foi detida.

Em 1983, poucos meses antes de falecer, fundou a Associação Democrática e Nacionalista de Militares, reunindo ex-colegas perseguidos pela ditadura.

Pery Constant Bevilacqua: Contra o AI-5

Embora fosse anticomunista e tivesse apoiado o golpe de 1964, o general Pery ConstantBevilacqua tornou-se crítico do endurecimento do regime. Quando o AI-5 foi decretado em 1968, ele se opôs publicamente às medidas repressivas, argumentando que os militares deveriam devolver o poder aos civis.

Sua postura custou-lhe a cassação e a aposentadoria forçada. Em 1977, filiou-se ao MDB e ou a defender a anistia para os perseguidos políticos. Antes de morrer, declarou:

Os fatos levam à conclusão de que será sempre preferível ar um mau governo a fazer uma boa revolução".

Soldados e Cabos: Cobaia para Torturas

A repressão militar não atingiu apenas os altos oficiais. Soldados de baixa patente também sofreram violência por parte do próprio Exército. O soldado Raimundo Pereira Melo, enviado para combater a Guerrilha do Araguaia, relatou que ele e seus colegas foram torturados sob o pretexto de "preparação" para resistirem a possíveis interrogatórios dos guerrilheiros. Durante essas sessões, Raimundo perdeu os testículos e ou o resto da vida carregando as cicatrizes físicas e psicológicas do período.

Outro caso emblemático foi o do soldado Manuel Messias Guido Ribeiro, que serviu na repressão à guerrilha. Ele afirmou que os militares de patentes baixas eram tratados como cobaias para os métodos de tortura.

Manuel foi submetido a choques elétricos e espancamentos. Décadas depois, ao revisitar a cela onde fora torturado, chorou ao recordar as músicas que os torturadores o forçavam a cantar durante as sessões de sofrimento.

O Caso de Manoel Raimundo Soares

O sargento Manoel Raimundo Soares foi o primeiro militar a ser torturado pela ditadura. Preso em 11 de março de 1966 por sargentos à paisana sob ordens do capitão Darci Gomes Prange, Manoel foi levado ao Departamento de Ordem Política e Social do Rio Grande do Sul (DOPS-RS), onde sofreu sessões brutais de tortura.

Ele foi espancado, teve partes do corpo queimadas e ficou incomunicável. Os relatos de seus companheiros de cela revelam que, devido à intensidade das agressões, ele não conseguia se alimentar sozinho.

Durante esse período, escreveu cartas angustiantes à esposa, Elisabeth, nas quais expressava sua dor e esperança de reencontrá-la. No entanto, sua história teve um desfecho trágico: em 24 de agosto de 1966, seu corpo foi encontrado boiando em um rio próximo a Porto Alegre, evidenciando o destino cruel de muitos militares perseguidos pelo próprio regime que ajudaram a construir.

Vicente Sylvestre: A Perseguição nas Polícias Militares

A ditadura também atingiu policiais militares que se recusaram a colaborar com a repressão. O coronel Vicente Sylvestre foi preso e torturado por ter vínculos com o Partido Comunista.

Segundo ele, os torturadores ignoravam completamente seu histórico dentro da corporação, apenas se preocupando em extrair informações e puni-lo brutalmente.

ei a ser um joguete nas mãos dos torturadores, que não tinham um mínimo respeito pelo ado de ninguém", declarou em uma entrevista anos depois.

A Luta pelo Reconhecimento

As perseguições dentro das Forças Armadas e das polícias mostram que a ditadura não poupou nem mesmo aqueles que deveriam ser seus aliados naturais. Muitos militares, até hoje, lutam para que sua história seja reconhecida e que as violações de direitos humanos cometidas contra eles sejam oficialmente registradas. A Comissão Nacional da Verdade teve um papel fundamental nesse processo, mas o caminho para a justiça plena ainda é longo.

A verdade sobre esse período precisa ser amplamente conhecida, não apenas para honrar as vítimas, mas para evitar que novos regimes autoritários repitam os mesmos crimes. O Brasil ainda deve essa resposta a seus próprios militares perseguidos pela ditadura.