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Como um mangá reacendeu o medo de terremotos e afetou o turismo no Japão

Lançamento de quadrinho que prevê catástrofe em julho, somado a alertas de médiuns e gurus de feng shui, gera onda de cancelamentos de viagens

Gabriel Marin de Oliveira, sob supervisão de Giovanna Gomes Publicado em 23/05/2025, às 14h46

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Mangá afetou o turismo no Japão - Getty Images
Mangá afetou o turismo no Japão - Getty Images

Parece roteiro de filme-catástrofe: um mangá japonês prevê uma tragédia natural iminente, médiuns alertam sobre destruição em massa e até um mestre de feng shui recomenda evitar certas regiões. Mas a trama não é ficção — ou melhor, é, mas vem produzindo efeitos bem reais.

O temor de um "grande terremoto" previsto para julho está levando turistas do Leste Asiático a cancelarem ou adiarem suas viagens ao Japão, gerando preocupação no setor turístico do país.

"Previsões"

A origem do pânico pode ser rastreada até a obra 'O Futuro que Eu Vi', da artista japonesa Ryo Tatsuki. Lançado originalmente em 1999, o mangá ganhou notoriedade por "prever" o terremoto devastador de março de 2011, que causou o tsunami e a tragédia nuclear de Fukushima. Na capa da versão antiga, lia-se: "grande desastre em março de 2011". Coincidência ou não, a autora ganhou fama como uma espécie de profeta dos quadrinhos — e, em 2021, lançou uma versão completa da obra com novas previsões.

Entre elas, uma que vem preocupando turistas: um terremoto de proporções catastróficas em 5 de julho deste ano. Segundo o mangá, uma fenda se abrirá no fundo do mar entre o Japão e as Filipinas, gerando ondas três vezes maiores do que as do tsunami de 2011.

A previsão, ainda que baseada em sonhos — como a própria artista afirma —, ganhou eco entre médiuns e influenciadores místicos, especialmente em Hong Kong, China, Tailândia e Vietnã. Vídeos, publicações e alertas se espalharam rapidamente nas redes sociais, levando a um aumento no número de cancelamentos de viagens.

Segundo CN Yuen, diretor da agência de viagens WWPKG, sediada em Hong Kong, as reservas para o Japão caíram 50% no feriado da Páscoa. E a expectativa é de uma queda ainda maior nos próximos dois meses. "As pessoas simplesmente dizem que vão adiar a viagem por enquanto", relatou.

O medo foi agravado por um comunicado oficial do governo japonês, em janeiro, que indicava uma chance de 80% de um forte terremoto atingir a região da Fossa de Nankai, no sul do país, nos próximos 30 anos. Embora o dado seja estatístico e não preditivo, acabou sendo usado fora de contexto por quem tenta validar profecias.

No meio da tempestade de boatos, o mestre de feng shui Qi Xian Yu, conhecido como Mestre Sete, recomendou que seus seguidores evitassem o Japão a partir de abril. Outro suposto vidente chegou a prever um terremoto na Baía de Tóquio em 26 de abril — o dia ou sem qualquer incidente, mas a previsão se espalhou como pólvora nas redes chinesas.

Autoridades japonesas vêm tentando conter a onda de alarmismo. O Escritório do Gabinete do Japão publicou um alerta nas redes afirmando que a ciência atual não é capaz de prever terremotos com precisão. Já Yoshihiro Murai, governador da província de Miyagi, criticou duramente a propagação de boatos anticientíficos que podem prejudicar a economia local.

É um problema sério quando rumores nas redes sociais afetam o setor turístico", declarou.

Curiosamente, a própria autora do mangá pediu cautela. Em entrevista recente ao jornal Mainichi Shimbun, Tatsuki afirmou que vê de forma "muito positiva" o fato de sua obra incentivar a preparação para desastres — mas destacou que as pessoas não devem se deixar levar demais pelos seus sonhos e que as decisões devem ser baseadas na ciência.

Impactos

Ainda assim, os impactos são visíveis. Samantha Tang, instrutora de yoga de 34 anos, moradora de Hong Kong, adiou sua viagem a Wakayama, ao sul de Osaka. "Todo mundo fala sobre esse terremoto que está para acontecer", disse ela, que costumava visitar o Japão anualmente. Já Oscar Chu, decidiu não visitar o país este ano. "Não é o terremoto em si que me assusta, mas o transtorno que pode causar", explicou, mencionando possíveis cancelamentos de voos e interrupções no transporte.

Segundo a CNN, apesar do medo, muitos seguem firmes em seus planos.Vic Shing, também de Hong Kong, mantém sua viagem para Tóquio e Osaka em junho. "As previsões de terremoto nunca foram confiáveis", afirmou. "Mesmo que aconteça, o Japão sabe lidar com esse tipo de situação".

De fato, o Japão é um dos países mais bem preparados do mundo para lidar com desastres naturais, especialmente terremotos. Localizado no Círculo de Fogo do Pacífico, o arquipélago convive historicamente com tremores de terra. A infraestrutura moderna e a cultura de prevenção fazem parte do cotidiano da população.

E os números do turismo, por ora, seguem fortes. Só nos três primeiros meses de 2025, o país recebeu 10,5 milhões de visitantes. Desses, 2,36 milhões vieram da China continental e cerca de 647 mil de Hong Kong. Ainda que o medo do "grande terremoto" tenha afetado uma parcela dos viajantes, o fascínio pelo Japão parece continuar mais forte que as profecias.