Fóssil de predador ancestral, com dentes de felino e corpo de cão, encontrado no Egito, lança luz sobre extinção e evolução de carnívoros
Gabriel Marin de Oliveira, sob supervisão de Thiago Lincolins Publicado em 17/02/2025, às 18h40
Os hienodontídeos, carnívoros ancestrais que dominaram o topo da cadeia alimentar por milhões de anos, desapareceu misteriosamente há cerca de 25 milhões de anos, deixando os cientistas intrigados sobre as causas de sua extinção.
Recentemente, entretanto, uma equipe internacional de paleontólogos desenterrou uma peça crucial desse quebra-cabeça evolutivo: um crânio quase completo de uma espécie de hienodonta, até então, desconhecida.
A descoberta, ocorrida na Depressão de Fayum, no Egito, não apenas esclarece a aparência e o modo de vida desses predadores formidáveis, mas também oferece pistas sobre seu desaparecimento.
O crânio, datado de aproximadamente 30 milhões de anos atrás, é o mais completo já encontrado na África para a subfamília Hyainailourinae de hienodontídeos. Sua preservação notável permitiu aos pesquisadores analisar detalhes anatômicos cruciais, revelando características únicas que distinguem essa espécie de seus parentes.
"Este crânio é importante para nós, não apenas por ser completo e tridimensional, e na verdade é um belo exemplar, mas também porque nos fornece novas características para conhecermos mais sobre este grupo extinto de animais carnívoros", disse a paleontóloga Shorouq Al-Ashqar, principal autora do estudo publicado no Journal of Vertebrate Paleontology.
Batizada de Bastetodon syrtos, em homenagem à deusa egípcia com cabeça de gato Bastet, a criatura do tamanho de um leopardo possuía um focinho mais curto do que outros hienodontídeos, mas não se engane: seus dentes afiados como facas e mandíbula poderosa garantiam uma mordida devastadora. "Podemos dizer que o Bastetodon era o rei da antiga floresta egípcia", afirma Al-Ashqar no estudo.
Segundo a CNN, a análise do crânio revelou que o Bastetodon era um predador ágil e versátil, capaz de caçar uma variedade de presas, desde primatas ancestrais até hipopótamos e elefantes primitivos. Sua dieta diversificada e adaptabilidade a diferentes habitats sugerem que sua extinção não foi causada por uma única catástrofe ambiental ou pela falta de presas.
Uma das hipóteses levantadas pelos pesquisadores é que a competição com outros predadores, como os ancestrais de cães, gatos e hienas, pode ter desempenhado um papel na extinção dos hienodontídeos. As mudanças climáticas globais e a alteração das paisagens também podem ter contribuído para o desaparecimento desses carnívoros.
"O fim dos Hyaenodonta no final do Oligoceno mostra como as mudanças climáticas, pressões competitivas e mudanças na disponibilidade de presas afetaram os carnívoros", disse à CNN por e-mail Cathrin Pfaff, pesquisadora pós-doutoral e professora do Instituto de Paleontologia da Universidade de Viena, na Áustria.
"O fato de terem perdido para gatos e cães em sua evolução ainda é um mistério, mas pode ter sido causado por sua dentição altamente especializada. Por isso, um achado tão completo como este nos aproxima um o da solução do mistério, mesmo sendo apenas um espécime de tamanho médio", finalizou Pfaff no e-mail à CNN.
