Decisão de reduzir área protegida gerou críticas sobre risco à preservação dos geoglifos milenares; governo anuncia retomada da proteção
Gabriel Marin de Oliveira, sob supervisão de Publicado em 09/06/2025, às 18h15
Após forte reação de arqueólogos, ambientalistas e organizações internacionais, o governo do Peru anunciou no último domingo, 8, a restauração integral da área protegida das Linhas de Nazca, revertendo uma decisão anterior que havia reduzido em mais de 40% a zona de preservação dos geoglifos milenares.
A polêmica medida, tomada no final de maio, diminuía a área protegida de 5.600 para 3.200 quilômetros quadrados, alegando que novos estudos identificavam com mais precisão as áreas de "valor patrimonial real". No entanto, especialistas alertaram que a redução abriria espaço para a expansão da mineração informal e ilegal — uma ameaça crescente na região.
Localizada cerca de 400 quilômetros ao sul de Lima, a região de Nazca abriga um dos maiores legados arqueológicos do mundo: mais de 800 gravuras monumentais desenhadas no solo do deserto há mais de 1.500 anos. Representando animais, plantas e figuras geométricas, as Linhas de Nazca foram reconhecidas como Patrimônio Mundial pela Unesco em 1994.
A decisão de reduzir a área protegida foi amplamente criticada por especialistas e antigos gestores culturais. "A área já está infestada de mineração ilegal e usinas de processamento de minerais", alertou Luis Jaime Castillo, ex-ministro da Cultura e arqueólogo com anos de pesquisa na região.
Segundo o Ministério de Energia e Minas, ao menos 362 garimpeiros de pequena escala operam legalmente no distrito de Nazca sob um programa de regularização, mas há preocupação crescente com operações ilegais e destrutivas, especialmente num momento em que os preços internacionais do ouro estão em alta, tornando a exploração ainda mais lucrativa e, portanto, mais difícil de conter.
Diante da repercussão negativa, o Ministério da Cultura do Peru anunciou a revogação imediata da redução e a restauração da área original de proteção. Além disso, será criado um técnico multidisciplinar — com representantes do governo, arqueólogos, acadêmicos e membros da Unesco — para elaborar uma nova proposta de zoneamento e uso sustentável do território.
"A participação da Unesco e de especialistas locais garantirá que decisões futuras considerem não apenas o valor científico e cultural da área, mas também a realidade socioeconômica da região", afirma o comunicado oficial.
Segundo o 'The Guardian', organizações ambientais e culturais elogiaram a decisão do governo, mas alertam que monitoramento contínuo, fiscalização rigorosa e inclusão das comunidades locais serão essenciais para garantir a proteção duradoura da região.
