Quem visitar a pacata cidade de Seward no próximo mês poderá, finalmente, descobrir o que Harold Davisson decidiu guardar para o futuro
Felipe Sales Gomes, sob supervisão de Fabio Previdelli Publicado em 09/06/2025, às 15h15
Cápsulas do tempo costumam ser construções discretas, feitas para preservar objetos e memórias de uma época para as gerações futuras. Muitas vezes, permanecem fechadas por décadas, sem despertar grande interesse — até o dia em que são finalmente abertas.
E é exatamente isso que está prestes a acontecer com uma das cápsulas mais curiosas do planeta: a chamada “maior cápsula do tempo do mundo”, enterrada em Seward, Nebraska (EUA), com abertura marcada para 5 de julho de 2025.
Diferente de projetos acadêmicos ou institucionais, essa cápsula é fruto da iniciativa pessoal de Harold Keith Davisson, figura excêntrica e célebre na cidade.
Dono de uma loja de móveis e eletrodomésticos, Harold decidiu, em 1975, reunir uma série de itens do cotidiano para mostrar às futuras gerações — mais especificamente, a seus netos — como era o mundo na sua época. Para isso, enterrou um cofre de 45 toneladas bem em frente à sua loja, cobrindo-o com um monte de terra.
O que há dentro da cápsula ainda é um mistério, mas alguns detalhes já foram revelados por Trish Johnson, filha de Harold e atual presidente da House of Davisson Furniture Corporation.
Em entrevista ao site Roadside America, ela contou que o compartimento guarda cerca de 5 mil objetos — e a seleção é, no mínimo, inusitada: inclui uma calcinha de biquíni, um terno azul-marinho com flores amarelas bordadas e um Chevy Vega 1975 novinho, “o carro mais barato que ele conseguiu comprar”, segundo Trish.
Como Harold era dono de uma loja de variedades, coletar objetos diversos não foi um problema. Mas sua ambição ia além de apenas preservar memórias — ele queria construir a maior cápsula do tempo já feita.
E conseguiu: em 1977, entrou para o Guinness Book com esse título. Isso gerou protestos da Universidade Oglethorpe, em Atlanta, que reivindicava o recorde para sua “Cripta da Civilização”, selada desde 1940. Harold, porém, argumentou que a cripta da universidade não estava enterrada e, portanto, não era uma cápsula de verdade.
A polêmica fez o Guinness remover a categoria. Mas Harold, determinado a manter sua posição, decidiu dobrar a aposta: em 1983, construiu uma segunda cápsula, desta vez instalada sobre a primeira e protegida por uma pirâmide de concreto moldado — agora, sem margem para dúvidas quanto ao seu tamanho. A pirâmide também serviu de cobertura para a estrutura original.
Entre os itens que se sabe estarem na segunda cápsula estão listas telefônicas, pacotes deixados por moradores da cidade e um carro usado, possivelmente um Datsun ou Toyota de 1975, segundo lembra Trish.
Apesar de toda a preparação para registrar o mundo de 1975, Harold teve a sorte de viver o bastante para apresentar sua época pessoalmente aos netos: morreu em 1999, aos 91 anos.
A contagem regressiva para a abertura está em curso. E quem visitar a pacata cidade de Seward em julho de 2025 poderá, finalmente, descobrir o que mais Harold Davisson decidiu guardar para o futuro.
